Mozart

Na tranqüila casa de Salzburgo, uma cascata de notas irrompe o cravo: dois pequenos pianistas, Wolfgang Amadeus Mozart e sua irmãzinha Mariana, realizam, a quatro mãos, seus prodigiosos exercícios musicais, vigiados pelo pai. Mariana, chamada amorosamente Nannerl, alguns anos mais velha que o irmão, é hábil, mesmo na execução dos trechos mais difíceis, mas Wolfgang não é apenas um portentoso pianista: ele improvisa variações, voa com as mãozinhas no teclado, com trinados e acordes de genial variedade: Leopoldo Mozart, o pai, violinista e mestre de Capela em casa do Arcebispo de Salzburgo, alimenta projetos ambiciosos para seu segundo filho e pretende explorar sabiamente seu gênio musical: aos seis anos, Mozart compõe seu primeiro minueto e já está em condições de tocar qualquer trecho musical de concerto com o teclado coberto e de distinguir, a distância, qualquer acorde.

Aos seis anos, começa, com Nannerl, a exibir-se nas Cortes européias, e o espetáculo dos dois meninos, de rosto rosado e cabelos empoados, vestidos de brocado e rendas, intentos em arrancar notas do címbalo, faz delirar damas e cavaleiros, enquanto os críticos falam em milagre.

 

Aos 6 anos de idade, Mozart era considerado menino prodígio pelas platéias da Europa.

Em Munique, primeira etapa de uma série de concertos, os Mozart passam para Viena, recebidos maternalmente pela imperatriz Maria Teresa: Wolfgang, com sua modéstia e sua graça infantil, conquista a amizade da princesinha Maria Antonieta, futura rainha da França, e o afeto de toda a Corte austríaca.

Após um breve retorno a Salzburgo, para abraçar a mãe, eis os Mozart novamente em viagem: desta feita a meta é Paris, e dois concertos em Versalhes consagram o menino com fama internacional. Em 1864, ei-los na Corte de Inglaterra, onde o sucesso é clamoroso.

Mas as longas viagens de carruagens, em estradas péssimas, hospedando-se em estalagens mal aquecidas, casaram Mozart, que adoece e deve retirar-se para Chelsea, para tratar-se no campo. Wolfgang aproveita-se do período de calma para compor sua primeira sinfonia: tem apenas nove anos!

Para seu conhecimento da Europa faltava somente a Itália, que, no século XVIII era a meta obrigatória e ambicionada de qualquer musicista desejoso de triunfar. A Itália entusiasma o menino que, viajando de Verona a Mântua, a Lodie, Milão, de Florença a Roma e a Nápoles, escreve à mãe cartas meiguíssimas, descrevendo, com humildade, seus sucessos e lamentando não tê-la perto de si. Em Bolonha, um grande contra pontista, Padre Martini, quer ministrar-lhe aulas; em Roma, o Pontífice, Clemente XIV, concede ao pianista, que mal atingira aos 14 anos, a Cruz de Cavaleiro da Espora de Ouro. Em Milão, o conde Firmian, governador da cidade, encarrega-o de escrever uma ópera para ser representada na próxima estação teatral: será "Mitridates, rei do Ponto", que lhe dará um grande êxito e uma segunda encomenda, "Ascânio em Alba", sobre texto de Giuseppe Parini.

Nesse ínterim, em Salzburgo, morre o Arcebispo, e lhe sucede o intransigente conde Jerônimo Colloredo, contrário às contínuas deslocações do seu mestre de Capela. Começa para Wolfgang um período obscuro: Salzburgo parece-lhe provinciana, monótona, oprimente, após a vida emocionante nas capitais européias. Ele sonha evadir-se ainda e, em 1777, não podendo o pai acompanhá-lo, parte com a mãe para um giro de concertos. É em Manheim que recebe triunfais recepções e passa a fazer parte do ativíssimo mundo musical da cidade. Ali, conhece os Weber, uma família de musicistas, e inicia um ameno idílio com Aloísia; aprecia-lhe os dotes de cantora e acompanha-a ao címbalo, com um entusiasmo que não escapa ao rígido pai que, de longe, vigia a existência do filho e, temendo que um casamento apressado possa quebrar-lhe a carreira luminosa, manda-o a Paris.

É, para Mozart, uma dolorosa separação e assinala o início de um período muito triste: Paris não reserva ao jovem compositor aquelas recepções triunfais que tinha reservado ao menino prodígio; no mesmo ano, morre-lhe a mãe, tão ternamente amada, e esta desgraça apanha Mozart impreparado, quando seu coração, sempre criança, ainda tinha tanta necessidade dela. Volta para Salzburgo, com muita margura, ali compõe a ópera, "Idomeneu", sob encomenda do teatro de Munique. O sucesso clamoroso não o consola da dura escravidão a que o submete o Conde Colloredo: incapaz de reconhecer o brilhantíssimo estilo do compositor, fá-lo comer à mesa dos seus criados e o submete a contínuas e dolorosas humilhações.

Mozart, embora de caráter meigo e remissivo, revolta-se: a ocasião de rebelar-se é-lhe oferecida no verão de 1781. A Corte de Salzburgo transferira-se para Viena, e, aqui, Mozart estreita relações no vivíssimo mundo musical da capital austríaca, reencontra os Weber e fica noivo da irmã de Aloísia, Constança. A ordem do Conde Colloredo para voltar a Salzburgo, apanha-o de improviso: pede para ficar mais um pouco, mas seu pedido é repelido; apresenta, então, sua demissão, aceita com uma cena aborrecida, e é posto para fora a pontapés. Desde esse momento, Mozart inicia sua verdadeira e livre vida, baseada unicamente em seu trabalho de compositor. Casa com Constança Weber e, ao ameno período alternam-se as borrascas. São ambos muito jovens e pouco preparados para enfrentar uma existência que se prenuncia cheia de dificuldades financeiras. Mas as penas afiam a sensibilidade artística de Mozart. Sua música torna-se mais sólida, mais meditada. A amizade sincera de Haydn conforta-o nas horas amargas: a ele dedicará os esplêndidos "Quartetos" e compões o ritmo vertiginoso, quase pressago de que poucos anos ainda lhe restam.

E assim aparece, em Viena, depois em Praga, "As bodas de Fígaro", esplêndida ópera sobre letra de Lorenzo da Ponte, famoso libretista. Logo depois, eis "D. Giovanni", sua maior obra. E ele se iria para sempre, logo depois, numa noite de dezembro, e seu corpo é apressadamente baixado à vala comum, durante uma tempestade de neve.

Compositor austríaco cujo nome completo era Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791). Seu nome de batismo era Johannes Chrisostomus Wolfgang Theophilus Mozart; posteriormente havia trocado o prenome Theophilus para Amadeus. Representa, com Haydn, o ponto culminante da música no século XVIII; com Bach e Beethoven, a mais pura expressão do gênio musical. Exemplo notável de precocidade criativa, aos 3 anos de idade recebia lições de piano, ministradas pelo pai; aos 4 fez sua primeira composição; aos 7 tocava órgão, cravo e violino. Apresentou-se ao público pela primeira vez aos 6 anos, na universidade de Salzburgo. Mozart escreveu mais de 600 composições. Entre suas óperas merecem referência A Flauta Mágica, Miltríades, La Finta Giardiniera, Zaída, inacabada, Idomeneu, o Rapto do Serralho, As Bodas de Fígaro, Don Giovani, Cosi Fan Trutte, A Clemência do Tito, etc. A música religiosa guarda bem as preciosidades das 15 missas, Te-Deums, 9 Ofertórios, De Profundis, Cantatas, 7 sonatas para órgão e o inimitável Requiem (compôs a Missa Requiem minado pela tuberculose e em circunstâncias misteriosas: a visita de um misterioso personagem, que mais tarde foi identificado como o mordomo do Conde Walsegg, que o incumbiu de compor uma missa de Requiem. Já muito doente, trabalhava nesta missa, quando sofreu um ataque de paralisia, vindo a morrer no dia seguinte, sem ter terminado o requiem). Morreu na mais extrema miséria e foi enterrado em vala comum. Referem seus biógrafos: "O seu enterro estava sendo acompanhado por poucos amigos, quando caiu violenta tempestade que os dispersou pouco antes de seu caixão ser enterrado na vala comum, do cemitério de St. Marx."

Apesar de sua vida curta e da carreira malsucedida, encontra-se entre os grandes gênios da música. Sua imensa produção (mais de 600 obras) mostra uma pessoa que, desde criança, dominava a técnica da composição, além de possuir uma imaginação transbordante. Suas obras instrumentais incluem sinfonias, divertimentos, sonatas, música de câmara para diferentes combinações de instrumentos e concertos. Suas obras vocais são, basicamente, óperas e música religiosa (missas, oratórios). Sua obra combina as doces melodias do estilo italiano com a forma e o contraponto germânicos. Mozart sintetiza o classicismo do século XVII, simples, claro e equilibrado, mas sem fugir da intensidade emocional. Estas qualidades estão patentes em todos seus concertos, com os contrastes dramáticos entre o instrumento solista e a orquestra, e nas óperas, com as reações de suas personagens diante de diferentes situações. Sua produção lírica coloca à mostra uma nova unidade entre a parte vocal e a instrumental, com uma delicada caracterização e o uso do estilo sinfônico próprio dos grandes grupos instrumentais.

Links:

Mr. Mozart Home Page: Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791), site do compositor austríaco, incluindo biografia e uma história da música clássica. http://www.geocities.com/Vienna/8675/