José de Alencar

 

Jornalista, romancista, dramaturgo, poeta, jurisconsulto e político brasileiro, cujo nome completo era José Martiniano de Alencar. Nasceu em Mescejana (CE) em 1o. de maio de 1829, morreu no Rio de Janeiro em 12 de dezembro de 1877. Formado pela Faculdade de Direito de São Paulo em 1850 (cursou o 4o. ano em Olinda), além de advogado foi professor de Direito Mercantil, consultor de negócios da Justiça, deputado geral pelo Ceará em várias legislaturas e Ministro da Justiça. Jornalista militante, em 1856 dirigiu o Diário do Rio, onde entre outras obras, publicou as novelas Cinco Minutos, A Viuvinha e o romance O Guarani, um dos marcos mais extraordinários da literatura brasileira, a obra-prima do indianismo brasileiro, de que foi a maior expressão. Depois de O Guarani publicou comédias e dramas, entre os quais O Jesuíta e Mãe. Retornando ao romance, escreveu Lucíola 1862), As Minas de Prata (1862-1865), Diva (1863), Iracema (1865), espécie de poema em prosa, onde o indianismo tem a melhor expressão poética e em que realça o sentimento de brasilidade, característico de toda a obra de Alencar; Ubirajara, O Gaúcho (1870), A Pata da Gazela (1870), O Tronco do Ipê (1871), Til (1872), Sonhos de Ouro (1873), Alfarrábios (1873), Guerra dos Mascates (1873), O Sertanejo (1875), Senhora (1875) e Encarnação (1877).

Sobre José de Alencar escreveu Machado de Assis, que foi seu contemporâneo: "Quando entrei na adolescência, fulgiam os raios daquele grande engenho: vi-os depois em tanta cópia e com tal esplendor, que eram já um sol quando entrei na mocidade. Gonçalves Dias e os homens do seu tempo estavam feitos; Álvares de Azevedo, cujo livro era a Boa Nova dos poetas, falecera antes de revelado ao mundo. Todos eles influíam profundamente no ânimo juvenil, que apenas balbuciava alguma coisa; mas a ação crescente de Alencar dominava as outras. A sensação que recebi no primeiro encontro pessoal com ele foi extraordinária: creio ainda agora que não lhe disse nada, contentando-me de fitá-lo com os olhos assombrados do menino Oleine ao ver passar Napoleão. A fascinação não diminuiu com o trato do homem e do artista..." "...podemos dizer que ele saiu da Academia para a celebridade. Quem o lê agora, em dias e horas de escolha, e nos livros que mais lhe aprazem, não tem idéia da fecundidade extraordinária que revelou tão depressa entrou na vida. Desde logo pôs mãos à crônica, ao romance, à crítica e ao teatro, dando a todas essas formas do pensamento um cunho particular e desconhecido.

No romance, que foi a sua obra por excelência, a primeira narrativa, curta e simples, mal se espaçou da segunda e da terceira. Em três saltos estava O Guarani diante de nós; e daí veio a sucessão crescente de força, de esplendor, de variedade. o espírito de Alencar percorreu as diversas partes da nossa terra, o norte e o sul, a cidade e o sertão, a mata e o pampa, fixando-as em suas páginas compondo assim com as diferenças da vida, das zonas e dos tempos a unidade nacional da sua obra"... "Nenhum escritor teve em mais alto a alma brasileira. E não é só porque houvesse tratado assuntos nossos. há um modo de ver e de sentir, que dá a nota íntima da nacionalidade, independente da face externa das coisas. o mais francês dos trágicos franceses é Racine, que só fez falar a antigos. Schiller é sempre alemão quando recompõe Filipe II e Joana D'Arc. O nosso Alencar juntava a esse dom a natureza dos assuntos, tirados da vida ambiente e da história local. Outros o fizeram também, mas a expressão do seu gênio era mais vigorosa e mais íntima. A imaginação que sobrepujava o espírito de análise, dava a tudo o calor dos trópicos e as galas viçosas de nossa terra. O talento descritivo, a riqueza, o mimo e a originalidade do estilo completavam a sua fisionomia literária." É também notável a sua obra de jurista; além de outros escritos avulsos, deixou dois livros publicados em edição póstuma: Esboços Jurídicos e Propriedade.

 

Divisão da obra alencariana

A) O romance indianista:O Guarani, Iracema, Ubirajara

Caracteriza-se por fonte impregnação lírica: fundado antes do lendário que no histórico, é um mundo poético que o leitor encontra, na ambiência, no enredo e principalmente na linguagem. Esse romance, de caráter lírico, poemático, aproveita o mito e o símbolo como elemento estético. O mito do "bom selvagem" (Peri, Iracema, Poti) que contrasta com a ganância e a falsidade do civlizado europeu. Tem-se criticado com demasiada facilidade a idealização alencariana do nosso índio. A verdade é que novelas como Iracema e O Guarani são inegavelmente belas, válidas como obras de arte.

B) Como romancista histórico: As Minas de Prata, A Guerra dos Mascates, O Garatuja, Alfarrábios

Alencar explorou, por exemplo, o mito do tesouro escondido, a lenda das riquezas inesgotáveis da nova terra descobera, que atraiu para ela ondas de imigrantes e aventureiros, as lutas pela posse definitiva da terra e alargamento das fronteiras. Mas o histórico é mero pretexto para a trama vovelesca da intensa movimentação e aventuras da imaginação.

C) No romance urbano: Cinco Minutos, a Viuvinha, Lucíola, Diva, A Pata da Gazela, Sonhos d'Ouro, Senhora, Encarnação.

Alencar retrata a vida carioca, com sua gente e costumes. Dramas morais, tipos femininos complicados, problemas de amor e do casamento com o patriarcalismo determinado as uniões dos filhos - são outros tantos temas para as novelas de Alencar, que nelas realiza considerável levantamento da vida burguesa brasileira do seu tempo. Em Lucíola e Senhora, já se notam prenúncios do Realismo.

D) No romance regionalista:

Aí está dos aspectos mais admiráveis do autor: dá-nos um painel das principais regiões culturais do País: a região sulina, com seus pampas e suas coxilhas (O Gaúcho), a vida rural fluminense (O Tronco do Ipê), o planalto paulista (Til) e o nordeste (O Sertanejo). Como no caso do romance histórico, não é a realidade, a verdade em si, que atrai o romancista, e sim o tema que possibilite dar largas à fantasia, ao seu estilo épico e ao desejo de lançar os fundamentos de uma literatura nacional.