Audição

 

Em 1739, Inglaterra e Espanha entraram em guerra porque os espanhóis haviam cortado a orelha de um certo capitão Jenkis. Muito barulho por pouco: o capitão continuou ouvindo do mesmo jeito, embora menos. Isto não é de estranhar, pois a parte exterior do ouvido humano — chamada pavilhão ou orelha — tem realmente pouca importância para a audição em si; sua função é apenas canalizar os sons para o interior (esse papel diminui quando a orelha não é móvel, como a do ser humano). Quanto às partes importantes, essas estão bem escondidas dentro da cabeça, embutidas no osso temporal e, portanto, bem protegidas contra acidentes.

Ouvir é fascinante. Mais fascinante é o órgão que permite ouvir: ocupando apenas cerca de um cm3  dentro do ouvido interno, eis uma das mais delicadas e sensíveis estruturas que um ser vivo possui: seu "aparelho receptor". Esse sistema é de uma qualidade tal que é capaz de captar sons que ocasionam um deslocamento da membrana do tímpano de apenas 0,00000001 mm, 1.600 freqüências e 350 intensidades diferentes.

Órgão que reúne as funções de audição e de equilíbrio, o ouvido é constituído por três partes: ouvido externo, médio e interno.

Estrutura

O ouvido externo compreende a o pavilhão auricular e o conduto auditivo externo que liga o pavilhão ao tímpano. O pavilhão da orelha tem a forma de uma concha, com saliências e curvas proporcionais pela estrutura interna cartilaginosa. Destina-se a captar os sons e proteger do vento e da poeira a parte interna. Em muitos animais, o pavilhão é bem desenvolvido (morcegos, por exemplo) e, em outros, ele movimenta-se livremente, para melhor se direcionar em relação ao som (cães, gatos, cavalos). No homem, os músculos que movimentam o pavilhão são geralmente inoperantes (algumas pessoas conservam essa capacidade de movimento, ainda que discreta). O canal auditivo é revestido de mucosa na sua parte inicial, mas sua parede é óssea na porção mais interna. Na primeira parte, existem glândulas secretoras do cerume, uma espécie de cera destinada a reter impurezas e corpos estranhos. O ouvido externo termina ao nível do tímpano, uma membrana vibrátil (como o couro de um tambor), destinada a amplificar as ondas sonoras.

O ouvido médio encontra-se situado na chamada caixa do timpânica, cuja face externa é formada pela membrana do tímpano, ou tímpano, separando-o do ouvido externo. Está em comunicação direta com o nariz e a garganta através da trompa de Eustáquio, que permite a entrada e a saída do ar do ouvido médio para equilibrar as diferenças de pressão entre este e o exterior. A trompa de Eutáquio pode ser percebida quando se muda de altitude e aumenta a pressão no ouvido externo. Abrindo-se a boca entra ar no ouvido médio e as duas pressões se equilibram Há uma cadeia formada por três ossos pequenos e móveis que atravessa o ouvido médio, por meio dos quais se propagam do ouvido externo ao interno as vibrações provocadas pelas ondas sonoras. Estes três ossos chamam-se martelo, bigorna e estribo.

O ouvido interno, ou labirinto, contém os órgãos auditivos e de equilíbrio. Está dividido em: cóclea — que constitui o aparelho de percepção de som , vestíbulo e três canais semicirculares. Estes três canais se comunicam entre si e contêm um fluido gelatinoso denominado endolinfa.

Capacidade auditiva

A audição começa na orelha. A orelha no homem é pouco desenvolvida e não pode se movimentar para localizar o som, como a do cavalo e a do cão. As ondas sonoras, na verdade mudanças na pressão do ar, são transmitidas através do canal auditivo externo até o tímpano, no qual produzem uma vibração. Estas vibrações se comunicam ao ouvido médio pela cadeia de ossículos até o líquido do ouvido interno. O movimento da endolinfa, produzido pela vibração da cóclea, estimula o movimento de um grupo de projeções finas, semelhantes a fios de cabelo, chamadas células cabeludas, que constituem o órgão de Corti. Estas células transmitem sinais diretamente ao nervo auditivo, o qual leva a informação ao cérebro.

O equilíbrio do corpo é um fenômeno ainda mais complexo e controvertido que o da audição. Sabe-se, por exemplo, que os canais semicirculares são responsáveis apenas pelo equilíbrio dinâmico (o que se tem quando se anda). O restante do equilíbrio é conseguido através das sensações táteis e visuais.

Mas como é que o cérebro reconhece e interpreta os diversos sons?

A resposta não é fácil e, além disso, nem todos os cientistas dão a mesma. Entretanto, pode-se afirmar com segurança que as células sensitivas do órgão de Corti só reagem a sons que possuem vibrações de duração igual; os sons baixos fazem vibrar só as fibras mais longas, que estão acima da espiral; as fibras medianas só vibram com os sons de intensidade média; e, finalmente, os sons mais altos impressionam as fibras mais curtas, situadas na base do espiral. De onde se conclui que cada som envia ao cérebro um impulso nervoso de determinada freqüência. E o cérebro reconhece os sons de acordo com o número de vibrações que recebe. Mas o ouvido humano não ouve tudo: só capaz de perceber sons cujas vibrações oscilam entre dezesseis e vinte e cinco mil ciclos por segundo. Além desses limites, estão os ultra-sons e os infra-sons, imperceptíveis para nossos ouvidos.

Doenças do ouvido

As doenças do ouvido podem provocar surdez total ou parcial. Além disso, a maioria das moléstias do ouvido interno está associada a problemas de equilíbrio. Entre as doenças do ouvido externo, encontram-se as malformações congênitas ou adquiridas, a inflamação e a presença de corpos estranhos. Entre as moléstias do ouvido médio, figuram a perfuração do tímpano e as infecções. No ouvido interno, podem ocorrer afecções provocadas por problemas congênitos ou funcionais. O acúfeno é uma sensação de zumbido persistente nos ouvidos.

As principais moléstias do ouvido são a otite média colesteatomatosa — que freqüentemente acomete os órgãos vizinhos (nervo facial, cérebro, carabelo e labirinto) — e a otosclerose, doença não inflamatória que provoca a fixação do estribo à janela oval. Esta última pode, às vezes, levar a pessoa à surdez completa.