Árvore do Maná

 

Narra a Bíblia (Êxodo XVI - 15) que o povo hebreu faminto, pôde alimentar-se com uma estranha chuva enviada por Deus: confetes brancos, com sabor de flor de farinha de mel. Quando a viram pela primeira vez, os beneficiados exclamaram: "Man h'?", que quer dizer: "Que é isso?", e destas palavras o providencial alimento recebeu o nome de maná.

"Maná caído do céu", dizemos, desde então, para indicar um auxílio inesperado e oportuno: mas, "maná do deserto" ou lecanora tem sido definida pelos cientistas a doce chuva branca. Na realidade, não se trata de chuva, mas um líquen que cresce no solo, fragmentando-se em pedacinhos enrolados. O vento transporta essas estranhas e leves bolinhas, e quem, pela manhã, encontra a terra recoberta delas pode acreditar numa chuva ou, melhor, numa nevasca providencial e excepcional.

O líquen do maná vive nos desertos da África setentrional e da Ásia Menor, onde populações indígenas dele se alimentam comumente. Todavia, o maná, ou pelo menos um produto com o mesmo nome, encontra-se também entre os sicilianos e os calabreses. Será até melhor, antes, esclarecer que existem muitos produtos açucarados, de diversa proveniência, todos conhecidos por maná: há o maná de Briançon, do Turquestão, do Sinai etc.

Mas, voltemos ao maná da Calábria e da Sicília, lá onde crescem o Faxinus ornus e o Fraxinus amolleo. Estas elegantes árvores possuem o monopólio do produto: os camponeses cortam, todas as estações, os troncos e, dos cortes, flui um líqüido licoroso de cor amarelada que, ao contato com o ar seco e quente, torna-se sólido, branco-amarelado. Grande inimigo deste maná é a chuva, que o dissolve completamente; por isso, os camponeses protegem, com reparos de todo tipo, os troncos incididos.

Esse maná é usado, desde tempos antigos, na farmacopéia, mas, enquanto os médicos medievais o prescreviam como remédio soberano contra todos os males, hoje, que se conhece claramente sua virtude anticongestiva, é recomendado para o preparo de colírios ou como brando purgante pediátrico (manita). Dele se fazem, também, sabões e explosivos (nitromanite).