A Borracha
Quando os espanhóis começaram a invadir a América do Sul, sua atenção foi atraída pelo suco de uma planta com que os indígenas formavam bolas, que saltavam no chão. Uma curiosidade de viajantes em terras distantes deveria tornar-se, alguns séculos depois, a origem de uma indústria colossal, a da borracha.
Segundo alguns, a borracha já era conhecida pelos etíopes e chineses, mas esta afirmativa não está convalidada por nenhum testemunho digno de fé, ao passo que numerosos são os documentos atendíveis que revelam como tal substância já era conhecida pelos indígenas da América do Sul.
Atualmente, a maior fonte desta matéria-prima não é mais o Brasil, sua pátria de origem, mas a Indonésia, onde as sementes ou as mudas da Hevea brasiliensis, foram levadas, pelo fim do século XIX, de maneira clandestina, por um comerciante inglês, acabando com o maravilhoso ciclo que tanto enriqueceu a Amazônia, principalmente Manaus, onde o dinheiro corria a rodo. O curioso nome de cauchu, dizem os europeus outro não é senão a transcrição, feita por um cientista francês, no século XVIII do nome dado ao produto endurecido pelos indígenas da Amazônia: cahuchu. A borracha elástica é látex (isto é, uma substância esbranquiçada, pegajosa, semelhante ao leite da figueira), segregado pela casca de uma enorme planta da família das Euforbiáceas, a Hevea brasiliensis, que cresce, espontânea, nas cálidas e úmidas florestas da América Meridional. um látex, com propriedades semelhantes, era extraído de várias outras espécies vegetais, de que recordaremos apenas o Ficus elástica, justamente esse mesmo Ficus que encontramos, com freqüência, em nossas casas.
Para extrair o látex, praticam-se incisões na casa ou dela se retiram camadas bem finas.
O líqüido, denso, semelhante à nata, endurece lentamente, ao ar: industrialmente, é coagulado pelo acréscimo de soluções ácidas, em geral, ácido acético. A borracha assim obtida, borracha em bruto, deformável como gesso, deve sofrer uma série de preparos para adquirir os requisitos da elasticidade, dureza, resistência etc., que fazem dela um dos produtos de consumo mais necessários no mundo moderno.
Ela é introduzida em máquinas especiais que funcionam mais ou menos como moedoras de carne, chamadas mastigadoras: elas servem para misturá-la e empastá-la, libertando-a do líquido e das impurezas. A este ponto deve-se dizer que os indígenas costumam defumá-la, quando em estado bruto, obtendo, assim, um produto bastante elástico e impermeável, mas grudento e, por isso, não é prático para trabalhá-lo. Na indústria moderna, ao invés, segue-se uma fase importante, a da mistura, isto é, à borracha são ajuntadas substâncias especiais, capazes de torná-la dura e elástica. para tal fim, emprega-se enxofre ou seus compostos; juntam-se, ainda, corantes e outras substâncias químicas, capazes de orientar a reação. A borracha, agora, está pronta para ser utilizada dos modos mais variados. É-lhe dada a forma definitiva, antes de submetê-la à vulcanização, cujo processo final a tornará realmente tal qual nós a conhecemos, .
Tal processo consiste em submeter o material, ao qual forma acrescidas as substâncias mencionadas, a uma elevada temperatura (cerca de 160º), de maneira que, entre borracha bruta e enxofre, ocorram aquelas complicadas reações, qie dão as características químicas e físicas desejadas. Misturada a uma quantidade maior de enxofre e levada a uma temperatura ainda mais alta a borracha se transforma, em ebanite, uma substância dura, que conhecemos.
As utilizações da borracha são infinitas, e vão das modestas borrachinhas para apagar escritos (um dos seus usos mais remotos), aos cabos elétricos, aos fios de tecido, aos tecidos impermeáveis, aos pneumáticos, às cintas etc.
O consumo e a procura de tal matéria-prima, como é fácil compreender, são tão grandes que as plantações do Brasil e da Ásia não mais bastam para satisfazer a indústria. hoje, se produz borracha sintética, em quantidades sempre crescentes.
Sintética significa "produzida artificialmente pelo homem", primeiro em laboratórios, após pesquisas complicadas, depois, em escala industrial, partindo de elementos químicos que a compõem. Atualmente, é preferida à borracha natural.
Hoje, como não se pode confiar muito no fornecimento da borracha vinda das plantações do Extremo Oriente, por causa das desordens políticas que ocorrem naquela zona, os países industriais do Ocidente incentivam de todos os modos a produção sintética deste indispensável produto. Principalmente a Europa, apesar de sua absoluta falta de matéria-prima, mantém condignamente seu lugar na indústria de borracha, graças ao aparelhamento industrial de primeira ordem. Além disso, o Brasil vem, também, incentivando a plantação da Hevea brasiliensis na Amazônia, pois se trata de produto de grande procura e aceitação no mercado.