Os pássaros são os seres que o homem mais tem invejado, porque, desde as mais remotas eras, ele sempre desejou voar. Observando o vôo rápido das andorinhas, ou o lento bater de asas das demais aves, ele, afinal, conseguiu imitar, e superar as livres criaturas do ar.
Entre as primeiras tentativas de que se tem lembrança, há aquela de um matemático e engenheiro militar de Perúsia, no século XV, Giovanni Battista Danti, que construiu duas grandes asas, movidas por um mecanismo especial. Durante o plenilúnio, ele se exercitava em vôos breves, às margens do lago Trasimeno. Finalmente, em 1503, realizou sua primeira experiência pública, lançando-se de uma alta torre de Perúsia: assemelhava-se, em tudo, a um enorme pássaro, coberto de penas. Atirou-se, então, do alto da torre, com um terrível silvo voando sobre a rua, mas, incontinente, caiu no claustro de um mosteiro, onde já haviam preparado, por precaução, alguns colchões. Todos acorreram, julgando que Dante houvesse morrido, mas encontraram-no apenas ferido numa perna e nada assustado.
Um inventor italiano, nos últimos anos do século XV, experimentou, na presença do rei James IV da Escócia, um estranho aparelho, que construíra. Forjara um par de asas mecânicas, ornamentadas com penas de aves; naquele dia, atirou-se de uma alta torre, abrindo as asas esplumadas, como um autêntico, mas infeliz, voador. De fato, caiu ingloriamente, bem no meio de um monte de estrume e quebrou uma perna. Minhas asas disse, mais tarde, tendo sido composta com penas de galinhas. tinham uma certa simpatia e atração pelo estrume. Se as tivesse feito com penas de águia, teria sido atraído para o alto!.
Também Leonardo da Vinci (1452-1519), grande artista e cientista, deixou muitos desenhos e estudos (recolhidos no Código Atlântico) de homens voadores por meio de asas aplicadas.
O espanto, a ansiedade, o temor do povo acompanharam todas as tentativas de vôo como as que citamos. O espanto transformou-se em terror, quando o homem começou a voar, não à maneira das aves, mas por meio de um aparelho, o balão voador, que, aos poucos, foi sendo aperfeiçoado e que, agora, chamamos aeróstato. Tal aparelho é constituído de um invólucro de formato esférico, que é preenchido de um gás mais leve que o ar para que possa subir assim que o libertem das amarras que o prendem à terra. Os primeiros balões voadores foram preenchidos com ar quente, adotando-se, mais tarde, o hidrogênio.
Em 1670, o Padre Lana, da Bréscia, Itália, projetou um aparelho formado por uma nacelle sustentada por quatro esferas, com robustas paredes de cobre, das quais se devia retirar o ar para que a "nacelle" subisse. Mas este aparelho foi considerado como "magia diabólica", e o Padre Lana foi, injustamente, levado aos tribunais.
O primeiro homem que voou com um balão foi o Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão, brasileiro, com sua "Passarola". No dia 05 de agosto de 1709, realizou sua ascenção oficial, em Lisboa, perante o rei de Portugal e sua Corte. Era um 'instrumento de caminhar pelo ar, muito mais rapidamente do que pela terra e pelo mar, fazendo, algumas vezes, mais de duzentos léguas de caminho por dia". Mal visto pela Inquisição, foi a Roma, em missão junto ao Papa, mas não se atreveu a voltar a portugal e faleceu na Espanha. Era doutor em Cânones, cônego, lente de Matemáticas em Coimbra e grande lingüística (1685-1724). Muito lhe valeu, nessa experiência, seu irmão Alexandre, diplomata e estadista, secretário particular do rei e ministro de Ultramar.
Memorável, também, foi a ascensão do aparelho constrúidos pelos irmãos Montgolfier, ocorrida em França, em 1783. Uma grande multidão, silenciosa e atenta, assistiu à experiência. O balão aerostático, cheio de ar quente, subiu, levando uma "barquinha" na qual estavam uma ovelha, um galo e um pato, aterrando, depois sem incidentes. No mesmo ano, os próprios inventores subiram no balão.
Depois disso, os estudos sobre balões aerostáticos multiplicaram-se e aperfeiçoaram-se. Começou-se a usar o lastro, isto é, material pesado, que era colocado no fundo da barquinha para equilibrá-la e, depois, atirado, quando se pretendia subir mais.
Para facilitar a descida, no invólucro que continha o hidrogênio, foi colocada uma válvula; quando esta era aberta, o hidrogênio ia saindo aos poucos e o balão, murchando, baixava suavemente. Os balões foram usados nos séculos XIX e XX, também na guerra, especialmente para fotografar as posições inimigas (balões de observação) ou para formar uma barragem a fim de dificultar o vôo dos aviões inimigos (balões cativos).
Derivado ao balão é o dirigível assim chamado porque pode mover-se segundo a vontade dos pilotos, dotado de uma hélice acionado por motores. Devemos a dirigibilidade desses aparelhos ao grande brasileiro Alberto Santos Dumont, que, em 19 de outubro de 1901, com seu dirigível n.º 6, contornou a Torre Eiffel, em Paris, regressando, depois, ao ponto de partida.
Mas, como o aperfeiçoamento do aeroplano, balões e dirigíveis perderam muito de sua importância no emprego bélico. Todavia, o aeróstato é, ainda, empregado no campo científico. Graças ao balão sonda, pode-se conhecer certos fenômenos meteorológicos que se verificam a alturas ainda não alcançadas pelo homem. Na barquinha, são colocados alguns instrumentos auto-registradores; atingindo uma certa altura, o balão explode, e a barquinha, sustentada por um pára-quedas desce à terra, trazendo a salvo sua preciosa carga.